Aproveitando o reencontro entre Corinthians e San José na ultima rodada da Libertadores, venho expor o que, ao meu ver, poderia ter sido o fator de mudança de toda a estrutura do futebol brasileiro. Entendo que todo o debate em torno do caso corinthiano, no que diz respeito à trágica morte do garoto boliviano Kevin Espada, já foi debatido de forma ampla e extenuante. Mas o que proponho nesse post é um olhar diferente, um olhar econômico que – para o azar do Sport Club Corinthians Paulista, e para a sorte do futebol nacional – o conservadorismo da diretoria do clube não permitiu que o clube adotasse.
Entretanto
gostaria de destacar que de forma alguma estou minimizando os efeitos da morte
deste jovem para todos os envolvidos principalmente para sua família e amigos.
Ressalto também que nenhuma indenização que o clube possa fazer para esses
entes acabará com o sentimento de perda destes.
Mas
vamos ao ponto que quero chegar. Exatamente no dia seguinte ao ocorrido a
diretoria do clube paulista deveria se posicionar a favor da retirada do clube
do torneio intercontinental. Sim, o clube deveria se autoeliminar com qualquer
discurso do presidente Mario Gobbi do tipo “A instituição Corinthians em
respeito a todos os patrocinadores, veículos de transmissões e principalmente
amantes do esporte, se posiciona totalmente contrario a atitude de uma pequena
minoria de sua torcida nos atos que mudaram a trajetória de uma família ontem”.
De
fato, a diretoria acabou falando algo do gênero no dia 21 de fevereiro. Mas
falar não adianta, hoje – quase dois meses depois – quais foram as ações
vistas? Faltou complementar essa resposta com atitudes maior do que mandar a
seleção para um jogo na Bolívia. E o que seria uma ação maior do que o clube
assumindo seu papel de culpa – sim a torcida é um patrimônio do clube e este
deve se apropriar dos benefícios e malefícios disto – e mostrando, de forma
pioneira, para o país e o mundo que mesmo sendo um dos clubes mais populares do
mundo, não está acima do bem e do mal.
Mas
o ponto desta autoeliminação não seria uma forma de indenizar a família.
Durante todo o tempo em que trabalhei na empresa de consultoria júnior, algo
sempre foi necessário: Pensar fora da caixa. Saber enxergar oportunidades em
meio a crises. Isso no mundo dos negócios é vital para a melhora contínua, pela
sobrevivência. E o futebol, é um grande negócio.
Pense
por um momento na possibilidade dessa saída. Obviamente o clube iria sofrer
inicialmente alguns revezes financeiros, tal como, no mínimo abrir mão das
cotas de televisão da Libertadores (A); Perder as receitas diretas como
ingressos por jogo (B); Perder as receitas indiretas como venda de produtos
oficiais (C).
(A)
No caso de chegar a final
|
R$
1,9 milhão
|
(B)
De Janeiro a Agosto
|
R$
28,129 milhões
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(C)
Dados de “Patrocínio e publicidade” do
Balanço de 2012 corinthiano
|
R$
64,7 milhões
|
TOTAL
|
R$
94,729 milhões
|
Certo,
essa atitude comprometeria algo entre 95 milhões de reais. E acredite esse
custo seria infinitamente menor do o ganho. Isso porque em primeiro haveria um
reposicionamento de marca. Esse reposicionamento positivo estaria indicando uma
mensagem clara para o público em geral: A empresa que me apoia e me patrocina,
acredita na vida humana, acredita que deve assumir com suas responsabilidades e
por ai vai. Ou seja, dificilmente o clube perderia a receita C e inclusive
poderia ganhar infinitamente mais com seus patrocinadores e sua publicidade. Em
termos da perda do item B, dados da ultima pesquisa da Pluri Stochos Pesquisas
e Licenciamento Esportivo, mostrou que mais de 20% dos brasileiros não torce
por nenhum time, e considerando em uma situação hipotética de que nenhum
torcedor de outro time vá de forma alguma trocar seu time para o clube do
Pacaembu, se torna perfeitamente plausível entender que parte considerável desses
20% podem vir a se considerar corinthianos, o que isso significaria
possibilidade, ainda que fraca, de aumento ou manutenção das altas receitas com
produtos oficiais e bilheteria. Ainda nessa questão, vale destacar que
Corinthians e Flamengo possuem indicadores do tamanho de torcida parecidos, com
leve vantagem para o rubro negro carioca. Isso faz com que ambos os clubes
tenham uma arrecadação muito acima do clube que ocupa a terceira posição, São
Paulo. Observando que ao “arrendar”, mesmo que apenas uma parte da parcela que
não torce por nenhum clube, o clube paulista pode se descolar inclusive do
Flamengo no ranking o que faria ter uma cota de televisão acima inclusive do
que já recebe mesmo sem a libertadores.
Deixo
claro que, para o torcedor corinthiano, nenhum valor desse importa mais que a
sensação do título imediato, esse comportamento é observável a cada vez que um
time grande tenta se equilibrar financeiramente mais com a ampla pressão da
torcida por títulos acaba se endividando mais e mais. Entretanto o caso
corinthiano teve uma peculiaridade impressionante: O momento. O clube acaba de
se sagrar campeão de tudo nos últimos anos, a torcida poderia até reclamar um
pouco, mas seria algo sustentável, justamente pelo grande retorno positivo que a
própria torcida do Corinthians teria afinal seu time “está acima do vencer a
qualquer custo” e vários outros argumentos criativos que a mesma pudesse a vir
utilizar.
Com
esses números já poderia se dizer que seria um bom negócio o clube
reivindicar a própria saída do torneio. Mas ainda é possível mensurar outro
resultado.
Toda
torcida tem uma relação de amor incondicional com ela mesmo. Exemplos claros
são as torcidas de Flamengo e do próprio Corinthians. Por isso, muitas vezes as
próprias torcidas, em momentos que seus péssimos elementos – que existe em
todas as torcidas – tomam atitudes impensadas, encobrem esses atos ou esperam o
assunto ser esquecido. Ou seja, mesmo que indiretamente, a maior parte da
torcida – os torcedores pacíficos – tende a aceitar todos os componentes de sua
torcida.
Há
de se destacar que dados de pesquisas recentes relatam que apenas 7% dos
torcedores tem tendência a contribuir com a violência nos estádios. Logo o
clube assumindo a responsabilidade dos atos vai colocar a “torcida boa” contra
a “torcida ruim”, pois vai ser um sinalizador claro de que a torcida é parte do
clube e da mesma forma que pode fazer um clube se classificar, pode o eliminar.
Isso vai fazer com que esses 93% de torcedores, tenham uma atitude mais proativa
no combate contra os violentos nos estádios.
Por
isso destaco que a torcida pode pensar com a emoção. A diretoria tem que usar a
razão e buscar, mesmo que não essa alternativa, saídas que levem a resolução de
fato do problema e não simplesmente o esquecimento dele. Acredito que nenhuma
indenização possível, iria restabelecer o rumo da família, ou o peso na
consciência dos corinthianos envolvidos, mas essa sequência de eventos poderia
contribuir para uma melhora global no mundo do futebol fora das quatro linhas.
Ou
seja, ao final de tudo, houve uma “grande conspiração da natureza” para que o
Corinthians transformasse os próximos Brasileirões em campeonatos espanhóis,
turcos e por ai vai. Mas por sorte de todo um país, o campeonato brasileiro vem
ai cada vez mais equilibrado e com times mais reforçados.
Ramon Anselmo Santana
Cursa faculdade de ciências econômicas na UERJ – período 7.
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