quinta-feira, 11 de julho de 2013

Era uma vez o Maracanã

Sem bandeiras, sem fogos, sem instrumentos musicais. Não pode tirar a camisa nem assistir ao espetáculo de pé… Sejam bem-vindos ao mais novo teatro inaugurado na cidade do Rio de Janeiro: o “Teatro Jornalista Mário Filho”, mais popularmente conhecido como “Teatro Maracanã”. Empreendida por Delta, Odebrecht e Andrade Gutierrez a um custo de mais 1 bilhão de reais aos cofres públicos, a obra teve início em 2010. No local, funcionava um antigo estádio, demolido para a construção do novo teatro, com capacidade para 78 mil pessoas. Talvez o maior teatro do mundo.

Pois é, amigos. É com essas palavras que deveriam ser anunciadas as medidas “anti-violência” do Consórcio Maracanã S/A para as partidas do Campeonato Brasileiro. Na verdade, o efeito disso tudo foi o contrário: o Maracanã foi duramente violentado. Não é mais o mesmo. Durante os jogos a que assisti na nova arena, México x Itália e Espanha x Taiti, pela Copa das Confederações, guardava a esperança de que a alma do velho Maraca tivesse sobrevivido, de que, com os jogos dos clubes, não teríamos uma ‘plateia’ no estádio. Mas eis que o sr. Eike Batista e seus muquepes trataram destruir essa esperança.

Em São Paulo, já temos uma experiência do tipo. Lá, também já são proibidos bandeiras, fogos e instrumentos musicais nos estádios. O resultado, todos já sabem. No caso do Rio, porém, impressiona a proibição em relação aos sem-camisa e aos que ficam em pé. Afinal, há uma ditadura também no esporte? Será que isso tudo não faz parte de um processo ferrenho de elitização do público que aprecia o futebol? Isso fica ainda mais escancarado quando vemos os preços prévios que o consórcio impôs nos melhores setores do estádio para jogos do Fluminense: nada mais, nada menos que R$ 100,00 e R$ 220,00.

Outro crime é a instalação de grades para a divisão das torcidas. Ou esses caras não pensam ou têm preguiça de pensar. Já que o receio é com as torcidas organizadas, por que não separá-las por um cordão humano, como será feito neste domingo (14) no jogo entre Flamengo e Vasco no Mané Garrincha? Não impedindo a mistura das torcidas nos setores inferiores, como ocorria no antigo estádio: um diferencial do então Maracanã em relação aos demais estádios e motivo de orgulho para os torcedores cariocas.

Por que não fizeram como no Mineirão, em que foram mantidos os dois lances de arquibancadas? O impacto seria bem menor e o torcedor não sentiria tanto a falta da magia do Maraca. Sem contar que o custo seria provavelmente bem menor que os absurdos 1,049 bilhão de reais, pois o estádio já havia passado por duas reformas.

Toda essa modernização, apesar de necessária, da forma como foi feita teve o seu preço. Estamos na era das arenas, em que a torcida deve ter comportamento de plateia, com seus lugares marcados. Esta é a dura realidade. E a verdade é que essa total descaracterização do estádio e de seu entorno é o só o começo de uma bola de neve.

A música de Neguinho da Beija-Flor parece já não fazer mais sentido. Sérgio Cabral não vendeu o Maracanã. Ele simplesmente o demoliu. A um alto preço.

Maracanã: *1950 + 2010
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Galo épico e favorito

Que campanha épica é a do Atlético Mineiro na Taça Libertadores da América 2013. O futebol só tem a agradecer a esse time por existir. Sim, pois qual equipe joga um futebol como joga a equipe de Cuca? Qual equipe tem trazido aos fãs de futebol tanta emoção como esse time tem trazido, fazendo jus a uma de nossas razões para amar futebol? Nem a seleção brasileira trouxe esse sentimento durante a campanha da Copa das Confederações. Os matas-matas diante do Tijuana e Newell’s Old Boys merecem ficar guardadas na história, não só na do galo, mas também do futebol brasileiro. E se formos falar de um só jogador que merece ser lembrado, o nome dele é Victor.

O arqueiro atleticano merece uma estátua no Independência. Os dois mais importantes pênaltis defendidos na história do galo tiveram sua autoria, não é pouca coisa. Após a cobrança convertida por Ronaldinho, criou-se uma atmosfera incrível na qual parecia que todos os torcedores do Galo já sabiam que Victor iria defender o chute de Maxi Rodríguez. A “previsão” se confirmou e, se Victor já havia feito história no clube pegando o pênalti do atacante Riascos, do Tijuana, dessa vez ele foi imortalizado e merece ser lembrado para sempre na história do galo. Com ou sem título.

O treinador Cuca também tem méritos por essa campanha. Após anos montando excelentes times pelos clubes onde passou, e também colecionado poucos títulos expressivos e muitos fracassos, o treinador mais uma vez forma uma ótima equipe. Com uma diferença: dessa vez parece haver superado o estigma de derrotado e azarado e contado com uma verdadeira sorte de campeão e entrega total dos jogadores.

Suas equipes jogam sempre ofensivamente e, acima de tudo, com muita organização, sem se exporem. Isso é para poucos. Praticam o futebol mais vistoso do país, comparadas ao pragmatismo de Muricy, Luxa, Felipão e Tite. Qual treinador brasileiro teria a ousadia de escalar juntos Bernard, Tardelli, Ronaldinho e Jô? Certamente, um deles sobraria na mão de outro treinador. Veremos Cuca um dia na seleção brasileira? Dirão que não possuem experiência, mas já que a nossa seleção vem sendo renovada, por que não renovar também na comissão técnica? Seria uma excelente aposta.

Voltando ao galo, outro personagem que merece também destaque é o atacante Guilherme. Tão criticado e perseguido, agora é herói. Que maravilhoso é o futebol, não? Cuca bancou sua permanência e, mais uma vez, foi feliz.

As finais tendem a se tornar a cereja do bolo. O Atlético é o favorito, tem muito mais time que o Olímpia, com uma diferença técnica abissal e, além disso, fará a segunda partida em casa. O fato de que não poderá atuar no Independência, onde o time se mantém ainda invicto, pode ser prejudicial, mas não irá decidir o confronto. O Atlético não poderá ter um caldeirão como no Horto, mas a massa será maior.

No entanto, o time do treinador Ever Almeida não deve ser desprezado, pois tem camisa e tradição (é tricampeão da Libertadores) e conta com jogadores experientes e perigosos, especialmente a dupla de ataque Bareiro e Salgueiro. E, assim como o galo, também eliminaram duas equipes (Fluminense e Santa Fé) também com uma dose de sorte. Portanto, olho vivo nos paraguaios. Um grande desafio para os comandados de Cuca certamente será furar a eficiente retranca do Olímpia, que tem tudo para ser implantada nas duas partidas finais – dia 17 no Defensores del Chaco e 24 no Mineirão – podendo compensar sua reconhecida inferioridade técnica.

Enquanto a decisão não chega, os atleticanos devem comemorar e muito. O galo já fez história na Libertadores.

*Dedicado à minha amiga, fanática pelo Galo, Mariana Couto

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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Brasil campeão: O maior vence o melhor

A excepcional, e porque não surpreendente, goleada do Brasil em cima da Espanha, na noite deste domingo (30) pela final da Copa das Confederações 2013, no Maracanã, mostrou que a mística da camisa verde e amarela ainda existe e que a seleção canarinho deve ser respeitada e temida em qualquer circunstância por todos os adversários. Foi a vitória do maior contra o melhor. Maior sim, pois qual país tem cinco títulos mundiais no currículo? Mas a conquista da Copa das Confederações poderia ter um rumo diferente, caso a conclusão de dois lances tivessem desfechos diferentes.

O primeiro é, sem dúvida, o gol de Fred logo aos dois minutos de jogo. Aquele gol mudou completamente os rumos da partida. A equipe da Espanha, por mais experiência que tivesse, sentiu o gol e ficou nervosa em campo, errando passes fáceis que não costuma errar. O Brasil, com isso, ganhou mais confiança para imprimir sua forte e eficiente marcação, que anulou as principais jogadas espanholas. O segundo é o corte de David Luiz, que salvou o gol de Pedro em cima da linha. Um empate da Espanha àquela altura poderia recolocar a 'fúria' no jogo. Portanto, podemos dizer que o Brasil contou com uma pequena dose de sorte também.

Mas não podemos desconsiderar a raça, determinação e aplicação tática da equipe brasileira, que fez uma excelente partida e conquistou o título com méritos. Diminuiu os espaços, foi objetivo, não deixou a Espanha praticar o "tic-tac" e soube aproveitar as oportunidades. Não foi um espetáculo, digno do futebol arte que ainda temos esperança de ver ressurgir, mas devemos reconhecer a eficiência da equipe. Méritos para Felipão, que, em pouco tempo desde que assumiu, conseguiu dar uma cara à seleção, melhorando o seu jogo coletivo e montando uma equipe que não encantou pelo futebol, mas conseguiu os resultados.

Se o assunto for destaques individuais, podemos citar Paulinho, Fred e Neymar. O primeiro parece que evoluiu ainda mais seu futebol na competição, mostrando ser uma peça importante na seleção, com eficiência na marcação e na saída de bola. O atacante do Fluminense se firmou como dono da camisa 9 e demostrou-se decisivo, marcando gols nos dois jogos finais. Já o novo reforço do Barcelona superou a desconfiança da mídia e da torcida e foi simplesmente o melhor jogador da competição. E chega à Catalunha com moral para, finalmente, se tornar o melhor do mundo.

Para a Espanha, fica a lição de que será preciso encontrar uma solução contra marcações mais compactas e que a sufoquem em seu campo de defesa, como aconteceu hoje. Se compararmos com o primeiro jogo, com vitória tranquila diante do Uruguai, vimos que Felipão acertou na receita do bolo. Naquele jogo, a equipe uruguaia marcava de longe, dando muitos espaços no meio-campo, fazendo com que a fúria chegasse com facilidade à sua área. O Brasil fez completamente o oposto, e foi feliz.

Chamou a atenção as atuações ruins de Mata, Fernando Torres e Arbeloa na partida. O último, inclusive, confirmou o futebol limitado que possui e provou que a safra de laterais direitos espanhóis anda nada boa, vide Michel Salgado. O deslocamento de Sérgio Ramos para esse setor pode ser uma solução. Xavi e Iniesta, destaques máximos da equipe de Vicente del Bosque, sofreram com a forte marcação e não conseguiram render.

Guardadas as devidas proporções, tudo isso lembra a goleada do Bayern sobre o Barcelona, na Liga dos Campeões da temporada passada, em que as circunstâncias foram as mesmas. Eram poucos os que apostavam em goleadas ou os torcedores que afirmavam que era possível jogar de igual para igual com os timaços espanhóis. Brasil e Bayern, porém, provaram o contrário e desfizeram a ideia de que há times imbatíveis ou que os jogadores espanhóis são imortais.

Mas o resultado, em nenhuma das duas circunstâncias, representa um declínio do futebol espanhol. Pelo contrário, continuarão fortes e brigarão por títulos. As conquista recente no Europeu sub-21, onde a seleção contava com jogadores talentosos e de futuro como Thiago Alcantara, Isco, Muniain e Tello dá indícios disso. E não é por causa da derrota de hoje que a "roja" deixa de ser a melhor da atualidade e uma das favoritas ao título da Copa do Mundo ano que vem. A derrota, inclusive, pode fazer bem à equipe, que dificilmente cometerá os mesmos erros da Copa das Confederações.

O Brasil, por sua vez, deve comemorar muito o título e a recuperação da confiança da torcida e do respeito que há muito tempo não imprimia ou pouco imprimia aos adversários. Mas não deve se deslumbrar, pois na Copa do Mundo, será preciso mais. Na Copa de 2014, a seleção poderá não só ter a Espanha pela frente novamente, mas adversários fortíssimos como Alemanha, Argentina e Holanda. Além disso, é um torneio mais longo, com um nível de cobrança ainda maior. Um novo fracasso pode fazer com que a conquista da Copa das Confederações não seja mais considerada importante e que o trabalho feito vá por água abaixo. É outra história.

Força da torcida

O apoio da torcida brasileira foi um show à parte neste torneio. Foram poucas as vaias e foi total o apoio, algo que não víamos a muito tempo nos estádios brasileiros. Ainda mais o Hino Nacional sendo cantado a plenos pulmões antes e durante as partidas. Inesquecível! E será um fator importante para o sucesso do Brasil na Copa.

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