A excepcional, e porque não surpreendente, goleada do Brasil em cima
da Espanha, na noite deste domingo (30) pela final da Copa das
Confederações 2013, no Maracanã, mostrou que a mística da camisa verde e
amarela ainda existe e que a seleção canarinho deve ser respeitada e
temida em qualquer circunstância por todos os adversários. Foi a vitória
do maior contra o melhor. Maior sim, pois qual país tem cinco títulos
mundiais no currículo? Mas a conquista da Copa das Confederações poderia
ter um rumo diferente, caso a conclusão de dois lances tivessem
desfechos diferentes.
O primeiro é, sem dúvida, o gol de Fred logo
aos dois minutos de jogo. Aquele gol mudou completamente os rumos da
partida. A equipe da Espanha, por mais experiência que tivesse, sentiu o
gol e ficou nervosa em campo, errando passes fáceis que não costuma
errar. O Brasil, com isso, ganhou mais confiança para imprimir sua forte
e eficiente marcação, que anulou as principais jogadas espanholas. O
segundo é o corte de David Luiz, que salvou o gol de Pedro em cima da
linha. Um empate da Espanha àquela altura poderia recolocar a 'fúria' no
jogo. Portanto, podemos dizer que o Brasil contou com uma pequena dose
de sorte também.
Mas não podemos desconsiderar a raça,
determinação e aplicação tática da equipe brasileira, que fez uma
excelente partida e conquistou o título com méritos. Diminuiu os
espaços, foi objetivo, não deixou a Espanha praticar o "tic-tac" e soube
aproveitar as oportunidades. Não foi um espetáculo, digno do futebol
arte que ainda temos esperança de ver ressurgir, mas devemos reconhecer a
eficiência da equipe. Méritos para Felipão, que, em pouco tempo desde
que assumiu, conseguiu dar uma cara à seleção, melhorando o seu jogo
coletivo e montando uma equipe que não encantou pelo futebol, mas
conseguiu os resultados.
Se o assunto for destaques individuais,
podemos citar Paulinho, Fred e Neymar. O primeiro parece que evoluiu
ainda mais seu futebol na competição, mostrando ser uma peça importante
na seleção, com eficiência na marcação e na saída de bola. O atacante do
Fluminense se firmou como dono da camisa 9 e demostrou-se decisivo,
marcando gols nos dois jogos finais. Já o novo reforço do Barcelona
superou a desconfiança da mídia e da torcida e foi simplesmente o melhor
jogador da competição. E chega à Catalunha com moral para, finalmente,
se tornar o melhor do mundo.
Para a Espanha, fica a lição de que
será preciso encontrar uma solução contra marcações mais compactas e que
a sufoquem em seu campo de defesa, como aconteceu hoje. Se compararmos
com o primeiro jogo, com vitória tranquila diante do Uruguai, vimos que
Felipão acertou na receita do bolo. Naquele jogo, a equipe uruguaia
marcava de longe, dando muitos espaços no meio-campo, fazendo com que a
fúria chegasse com facilidade à sua área. O Brasil fez completamente o
oposto, e foi feliz.
Chamou a atenção as atuações ruins de Mata,
Fernando Torres e Arbeloa na partida. O último, inclusive, confirmou o
futebol limitado que possui e provou que a safra de laterais direitos
espanhóis anda nada boa, vide Michel Salgado. O deslocamento de Sérgio
Ramos para esse setor pode ser uma solução. Xavi e Iniesta, destaques
máximos da equipe de Vicente del Bosque, sofreram com a forte marcação e
não conseguiram render.
Guardadas as devidas proporções, tudo
isso lembra a goleada do Bayern sobre o Barcelona, na Liga dos Campeões
da temporada passada, em que as circunstâncias foram as mesmas. Eram
poucos os que apostavam em goleadas ou os torcedores que afirmavam que
era possível jogar de igual para igual com os timaços espanhóis. Brasil e
Bayern, porém, provaram o contrário e desfizeram a ideia de que há
times imbatíveis ou que os jogadores espanhóis são imortais.
Mas o
resultado, em nenhuma das duas circunstâncias, representa um declínio
do futebol espanhol. Pelo contrário, continuarão fortes e brigarão por
títulos. As conquista recente no Europeu sub-21, onde a seleção contava
com jogadores talentosos e de futuro como Thiago Alcantara, Isco,
Muniain e Tello dá indícios disso. E não é por causa da derrota de hoje
que a "roja" deixa de ser a melhor da atualidade e uma das favoritas ao
título da Copa do Mundo ano que vem. A derrota, inclusive, pode fazer
bem à equipe, que dificilmente cometerá os mesmos erros da Copa das
Confederações.
O Brasil, por sua vez, deve comemorar muito o
título e a recuperação da confiança da torcida e do respeito que há
muito tempo não imprimia ou pouco imprimia aos adversários. Mas não deve
se deslumbrar, pois na Copa do Mundo, será preciso mais. Na Copa de
2014, a seleção poderá não só ter a Espanha pela frente novamente, mas
adversários fortíssimos como Alemanha, Argentina e Holanda. Além disso, é
um torneio mais longo, com um nível de cobrança ainda maior. Um novo
fracasso pode fazer com que a conquista da Copa das Confederações não
seja mais considerada importante e que o trabalho feito vá por água
abaixo. É outra história.
Força da torcida
O
apoio da torcida brasileira foi um show à parte neste torneio. Foram
poucas as vaias e foi total o apoio, algo que não víamos a muito tempo
nos estádios brasileiros. Ainda mais o Hino Nacional sendo cantado a
plenos pulmões antes e durante as partidas. Inesquecível! E será um
fator importante para o sucesso do Brasil na Copa.
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